INTERADUS: janeiro 2017

Entenda a Febre a Amarela - Áreas de Risco no Brasil segundo a OMS

Dinâmica do Vírus

Os macacos costumam ser os primeiros a ser infectados pelo vírus da febre amarela e, por isso, são chamado de animais-sentinela. Ou seja: alertam para a circulação do vírus em uma área.

Por isso, quando começa a morrer uma quantidade anormal de macacos, órgãos de saúde são alertados para intensificar a vacinação.


Em épocas de surto, outra ameaça a esses primatas é a desinformação. Em 2008 e 2009, macacos foram mortos em Goiás e Rio Grande do Sul por moradores que consideravam, equivocadamente, que os animais passavam a doença. Os únicos vetores da doença, porém, são os mosquitos Haemagogus e Sabethes.

Para evitar novos casos, o governo do Espírito Santo e autoridades gaúchas divulgaram alertas para esclarecer como ocorre a transmissão.

A decisão no Rio Grande do Sul foi tomada após a circulação de rumores sobre ataques, diz Soraya Ribeiro, da secretaria de Meio Ambiente da prefeitura de Porto Alegre. "É crime ambiental", avisa.

Entre as suspeitas de ataque está o caso de dois bugios achados em Nova Petrópolis (a 90 km de Porto Alegre) no último mês. Segundo o zoológico de Gramado (RS), que os acolheu, um tinha ferimentos provocados por arma de fogo e morreu. O outro está em tratamento. Para o veterinário Marcelo Cunha, os ferimentos são compatíveis com aqueles causados por objetos cortantes, como facão.

Ministério da Saúde

Em nota, o Ministério da Saúde informou ter enviado técnicos a São Paulo e Minas para auxiliar na investigação de casos humanos e de animais. Disse ainda que está capacitando profissionais "para atuar na investigação eco epidemiológica de eventos suspeitos de febre amarela."



Entenda a Febre a Amarela

O que é a febre amarela?
Uma doença infecciosa transmitida pela picada de mosquitos infectados; não há transmissão direta de pessoa para pessoa.

Só existe um tipo?
Existem dois: silvestre e urbano. O silvestre ocorre em áreas rurais e de mata por meio de um ciclo que envolve macacos e mosquitos como o Haemagogus e o Sabethes -o homem é um hospedeiro acidental. Já no urbano, que não é registrado desde 1942 no Brasil, o homem é o único hospedeiro e a transmissão ocorre pelo Aedes aegypti.

Quais são os sintomas?
Na fase inicial, o paciente tem febre, dor de cabeça, dores no corpo, cansaço, perda de apetite, náuseas e vômitos. Já nas formas graves, podem ocorrer icterícia (coloração amarelada da pele), hemorragias e insuficiência renal. Esses três fatores, somados, podem levar à morte.

Qual é o ciclo da doença?
O período de incubação varia entre 3 e 6 dias, em média, e o vírus fica no corpo humano por no máximo 7 dias (os sintomas só aparecem de 1 a 2 dias depois).




Como me prevenir?
A vacina é a principal forma de prevenção e controle.

O que pode ter feito com que casos da doença aumentassem?
Entre os fatores está a época do ano: em geral, o período de dezembro a maio é o de maior risco de transmissão, tanto pelas chuvas quanto pela época de viagens. Um elemento que preocupa é a grande presença do Aedes aegypti no país, mosquito que pode transmitir o vírus caso ele volte à área urbana.

A vacina é 100% eficiente? É segura?
A eficácia chega a 90% e ela é bastante segura. Pode causar reações adversas, como qualquer medicamento, mas casos graves são raros. Dores no corpo, de cabeça e febre podem afetar entre 2% e 5% dos vacinados.

Quem deve se vacinar?
Pessoas que moram ou vão viajar para regiões silvestres, rurais ou de mata dentro das áreas de risco. Ela deve ser aplicada dez dias antes da viagem.

Oxfam: 6 falsas premissas que impulsionam a desigualdade

Relatório aponta os discursos disseminados por corporações e super-ricos para influenciar políticas que os favoreçam
A atual economia do 1% baseia-se em falsas premissas que só favorecem os ricos e não satisfazem as necessidades de pessoas em situação de pobreza

Divulgado na segunda 16, o último relatório da Oxfam revelou que só oito indivíduos (todos homens) detêm a mesma riqueza que os 3,6 bilhões que fazem parte da metade mais empobrecida do planeta.

Além disso, o abismo entre ricos e pobres está aumentando em uma velocidade muito maior do que se esperava, em parte devido às estratégias do topo da pirâmide econômica, habitado por grandes corporações e os "super-ricos", utilizadas para influenciar políticas e garantir regras que os favoreçam, mesmo que em detrimento do restante da sociedade.

"A atual economia do 1% baseia-se em uma série de falsas premissas que fundamentam muitas das políticas, investimentos e atividades de governos, empresas e indivíduos ricos, e que não satisfazem as necessidades de pessoas em situação de pobreza e da sociedade de uma maneira geral", afirma o estudo da Oxfam.

O documento produzido pela ONG inglesa, que busca combater o aumento da desigualdade, elenca as falsas seis premissas que acabam por acirrar o fosso entre ricos e pobres:

1 - O mercado está sempre certo e o papel dos governos deve ser minimizado

A crença inabalável no poder do mercado, aliada a uma visão negativa do papel do Estado na economia, é o alicerce do neoliberalismo. Na verdade, diz o relatório, não existe confirmação de que o mercado seja o melhor meio de organização para a vida em sociedade. Ao contrário. Para a Oxfam, os mercados precisam ser cuidadosamente geridos, a fim de proteger os interesses das pessoas.

"Vimos como a corrupção, o favorecimento ou o nepotismo distorcem os mercados em detrimento de pessoas comuns e como o crescimento excessivo do setor financeiro exacerba a desigualdade", diz o estudo, lembrando da crise financeira de 2008.

Além disso, existem exemplos práticos de como a privatização de serviços considerados essenciais, como a saúde, a educação ou o abastecimento de água, acaba por prejudicar os mais pobres, em especial, as mulheres.

2 - Nas empresas, o lucro e o retorno para os acionistas deve estar acima de tudo 


A minimização de custos fiscais e trabalhistas e a maximização da receita são consideradas a fórmula para melhorar a rentabilidade das empresas e torná-las mais "eficientes".

No entanto, a busca pelo lucro acima de tudo e pelos maiores retornos possíveis aos acionistas acaba por aumentar, de maneira desproporcional, a renda dos que já são ricos, ao mesmo tempo em que pressiona negativamente trabalhadores, fornecedores, comunidades e o meio ambiente.

O estudo pede que as empresas busquem um "capitalismo sustentável", com geração de lucros razoável e uma remuneração mais justa para os trabalhadores.

3 - A riqueza individual extrema é sinal de sucesso

O estudo defende que a concentração de renda nas mãos de poucos indivíduos é "economicamente ineficiente, politicamente corrosiva e prejudicial para o nosso progresso coletivo". Embora existam evidências contrárias, afirma a Oxfam, muitos ainda acreditam que chega-se ao topo da pirâmide trabalhando duro e contando com uma boa dose de talento. Outra falsa premissa é que os super-ricos contribuem para o crescimento econômico.

Dados do FMI citados pelo estudo revelam, porém, que países menos desiguais crescem mais e por mais tempo. Por outro lado, países com muitos bilionários crescem mais lentamente.

4 - O crescimento do PIB deve ser o principal objetivo econômico 

Considerada a ferramenta padrão para se dimensionar a economia de um país, a soma de todos os bens e serviços produzidos por empresas, governos e indivíduos, isto é, o Produto Interno Bruto (PIB) foi classificado pela revista The Economist como um "indicador de prosperidade problemático".

Por ser uma média, o índice não leva em consideração a desigualdade e, além disso, não computa o trabalho doméstico não-remunerado realizado por uma enorme quantidade de mulheres no mundo todo. O estudo cita a Zâmbia, cujo PIB está crescendo a taxas elevadas, justamente quando o número de pessoas em situação de pobreza aumentou.



5 - Nosso modelo econômico é neutro em relação ao gênero

Outra premissa falsa é a de que não existem diferenças de classe, raça e gênero dentro do modelo econômico vigente. Dentro desta lógica, os resultados alcançados por indivíduos são determinados exclusivamente por suas habilidades e esforços. Essa linha de pensamento, afirma a Oxfam, leva, entre outros, à perpetuação das distorções e das desigualdades de gênero.

"Modelos econômicos neoliberais não somente ignoram essas barreiras, mas também prosperam graças às normas sociais que enfraquecem as mulheres. Países com grandes setores orientados para a exportação são particularmente beneficiados por uma grande força de trabalho pouco qualificada e sem voz. Muitos desses trabalhos são reservados às mulheres devido à sua “desvantagem competitiva”, afirma o estudo.

Além de tradicionalmente ocuparem cargos e funções com remuneração mais baixa, as mulheres recebem, em média, salários 23% menores do que os dos homens na mesma função e são massivamente responsáveis pelo trabalho doméstico não-remunerado - "que não é contabilizado no PIB, mas sem o qual as economias não funcionariam".

Segundo a ActionAid, as mulheres que vivem nos países em desenvolvimento poderiam somar 9 trilhões de dólares a suas rendas caso seu salário e acesso a trabalho remunerado fossem iguais aos dos homens

Além disso, cortes nos serviços públicos, na segurança no emprego e em direitos trabalhistas costumam afetar a força de trabalho feminina de maneira desproporiconal.

6 - Os recursos do nosso planeta são ilimitados

As consequências negativas do modelo econômico atual não atinge apenas a raça humana. Tal modelo, baseado na exploração sem limites do meio ambiente, parte da premissa de que os recursos naturais são ilimitados e devem ser explorados ao bel-prazer de empresas e governos. No entanto, esse modelo "colabora intensamente" para a ocorrência de mudanças climáticas descontroladas.

"A ênfase cada vez maior na maximização dos lucros e retornos de curto
prazo agrava a cegueira ambiental das nossas economias, uma vez que qualquer perspectiva de longo prazo é suprimida", diz o relatório.

Segundo estimativas da Oxfam, os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por metade de todas as emissões globais de gases que agravam o aquecimento global. No entanto, as consequências mais graves das mudanças climáticas (como eventos extremos) serão sentidas pelas comunidades mais pobres.

Clique aqui e leia o relatório completo do Oxfam.

Por Carta Capital

Tsé-tsé. A picada de mosca que deixa as vítimas em sono profundo

A mordida de uma mosca tsé-tsé é uma experiência extremamente desagradável. Não é como a de um mosquito, que pode inserir sua fina língua diretamente no sangue, muitas vezes sem o alvo perceber: a boca dela tem minúsculas serrilhas que rompem a pele para poder sugar o sangue.

Mosca tsé-tsé, que transmite a doença do sono

Para piorar a situação, várias espécies de mosca podem transmitir doenças. Uma das mais perigosas é causada por um parasita: a doença do sono ou Tripanossomíase Humana Africana (THA), para dar o nome oficial. Sem tratamento, ela é normalmente fatal.
Como tantas doenças tropicais, a doença do sono tem sido muitas vezes negligenciada pelos pesquisadores farmacêuticos. No entanto, investigadores têm se esforçado há tempos para compreender como ela engana os mecanismos de defesa do nosso corpo.

Algumas de suas descobertas podem agora ajudar a eliminar a enfermidade completamente.
Há dois parasitas unicelulares que causam o sono mortal: Trypanosoma brucei rhodesiense e T. b. Gambiana.
Este último é mais predominante: é responsável por até 95% dos casos, principalmente na África Ocidental. Ele leva vários anos para matar uma pessoa, enquanto o T. b. rhodesiense pode causar a morte em poucos meses. Existem ainda outras formas que infectam o gado.
Após a mordida inicial, os sintomas da doença do sono muitas vezes começam com febre, dores de cabeça e dores musculares. À medida que ela avança, os infectados ficam cada vez mais cansados - é de onde a doença recebe seu nome.
Alterações de personalidade, confusão mental grave e má coordenação também podem acontecer.

Além do sangue, parasitas também ficam na pele e na gordura do corpo

Embora a medicação ajude, alguns tratamentos são tóxicos e podem ser letais, especialmente se ministrados depois que o mal alcançou o cérebro.
Controle?
É interessante notar que a doença do sono não é tão mortal como antes.
No início do século 20, várias centenas de milhares de pessoas eram infectadas por ano.
Na década de 1960, a doença foi considerada "sob controle" e registrou números muito baixos, tornando sua propagação mais difícil. Mas nos anos 70 houve outra grande epidemia, que demorou 20 anos para ser controlada.

Desde então, programas melhores de rastreio e intervenções antecipadas têm reduzido o número de casos dramaticamente.
Em 2009, foram contados menos de 10 mil deles pela primeira vez desde que os registros começaram, e em 2015 esse número caiu para menos de 3 mil, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde. A OMS espera que a doença seja completamente eliminada até 2020.
Mas enquanto o declínio parece positivo, podem haver muitos mais casos não registrados na zona rural da África. Para eliminar o problema completamente, as infecções têm de ser acompanhadas de perto.
Uma série de novos estudos tem mostrado que o parasita é mais complicado do que se imaginava.
A doença do sono sempre foi considerada - e diagnosticada - como uma doença de sangue, pois o T. brucei pode ser facilmente detectado no sangue de suas vítimas. Num estudo publicado em setembro de 2016, porém, pesquisadores revelaram ter descoberto que o parasita também pode residir na pele e na gordura.

Parasita Trypanosoma brucei rhodesiense (roxo) é responsável por até 95% dos casos, principalmente na África Ocidental

Pode até haver uma maior densidade de parasitas na pele do que no sangue, diz a coautora do estudo, Annette MacLeod, da Universidade de Glasgow, no Reino Unido.
O fato de a mosca tsé-tsé beber o sangue de uma pessoa pode fazê-la "pegar os parasitas da pele junto com o sangue".
Isso significa que uma pessoa pode não ter sintomas, mas ainda abrigar a doença e espalhá-la.
"Achamos que a pele é, portanto, um reservatório escondido da infecção", diz MacLeod.
Pessoas que transportam a infecção em sua pele não seriam tratadas como aquelas com níveis detectáveis de parasitas no sangue. A descoberta poderia explicar a misteriosa epidemia de 1970, e por que a doença pode ressurgir em áreas que previamente tinham zerado os casos.
"Tivemos uma pessoa de Serra Leoa, que não registrou a doença por 29 anos e depois apareceu em estágio avançado da doença do sono", diz MacLeod. "Você pode abrigar estes parasitas por um longo tempo e ficar bem."

'Corrida armamentista'
Essa não é a única razão pela qual os parasitas podem iludir nosso sistema imunológico.
Em 2014, Etienne Pays, da Universidade de Bruxelas, na Bélgica, descreveu a história da doença do sono como uma "corrida armamentista" entre os humanos e o parasita.
Nessa batalha, nossa principal arma é uma proteína chamada apolipoproteína L1, que é resistente a uma forma anterior de T. brucei.
Essa proteína foi "eficiente em matar o parasita no sangue", diz Pays. "Pelo que sabemos, ela só estava lá para matá-lo."

Houve um grande surto de doença do sono no início de 1900, na África

Infelizmente, ao longo do tempo o parasita encontrou uma maneira de burlar a proteção da proteína. Enquanto apolipoproteína L1 ainda pode matar a variante que infecta o gado, não é mais eficaz contra as duas estirpes do T. brucei que infectam os seres humanos. Essas duas "conseguiram escapar", diz Pays.
Mas ele e sua equipe conseguiram ajustar a proteína em seu laboratório para torná-la resistente ao T. b. rhodesiense, a forma rara, mas mais letal.
O que eles não perceberam é que há pessoas na África que já têm um sistema de defesa semelhante. Graças a uma mutação na mesma proteína, elas têm imunidade natural contra o T. b. rhodesiense.
Pays agora suspeita que algumas pessoas sejam resistentes a todas as formas do parasita.
Essa imunidade natural infelizmente tem um custo. Ninguém ainda sabe por que, mas ela tem sido associada a doenças renais em idade mais avançada.
O desafio é fazer uma variante sem efeitos colaterais. A equipe de Pays produziu outra proteína capaz de matar ambas as formas, mas, quando eles a testaram em camundongos, os animais morreram.
O pesquisador ainda está aprimorando a proteína em seu laboratório, na esperança de que ela irá fornecer uma cura eficaz.
"Nós criamos outra, que estamos testando atualmente", disse.

As fases
Se Pays atingir seu objetivo, os médicos simplesmente precisarão injetar a proteína em uma pessoa infectada. Em seguida, ela irá matar o parasita e desaparecer. Isso é promissor, mas há um desafio adicional.
A razão pela qual a doença do sono é tão mortal é que ela pode entrar no cérebro. Instalada lá, causa sintomas mais graves, como confusão, alucinações e má coordenação. Uma vez no cérebro, ela se torna mais difícil de tratar e, portanto, mais fatal.
Médicos pensam nisso como um segundo estágio da doença, sendo a primeira quando o parasita infecta o sangue.

Razão pela qual a doença do sono é tão mortal é que ela pode entrar no cérebro

Para atingir o cérebro, o parasita deve atravessar a barreira sangue-cérebro, que bloqueia a maior parte das doenças e toxinas. A questão-chave é como ele atravessa - ao que parece, estamos olhando para o lado errado do problema.
Um estudo publicado em outubro de 2016 propõe que a doença do sono tem três fases distintas, não duas como se pensava anteriormente.
A primeira é a picada da mosca tsé-tsé, após a qual o parasita infecta o sangue da pessoa. Na segunda etapa, que não foi identificada anteriormente, o parasita aparece no líquido cefalorraquidiano e em três membranas que envolvem o cérebro, conhecidas como meninges.
Na terceira fase, as fronteiras de proteção do cérebro quebram e uma "invasão em massa" de tripanossomas atravessa a barreira sangue-cérebro, atacando-o.
Michael Duszenko, da Universidade de Tubingen, na Alemanha, e seus colegas descobriram o segundo estágio em camundongos.
Eles também encontraram uma razão para que a terceira fase leve meses e às vezes anos para ocorrer: acontece que o parasita se mantém no segundo estágio, ativamente atrasando o progresso da doença.
Para conseguir isso, ele libera um composto chamado prostaglandina D2, que faz duas coisas.
Em primeiro lugar, induz o sono no paciente, tornando-o mais vulnerável à picada de uma mosca tsé-tsé. Em segundo lugar, faz com que algumas das células de parasitas iniciem um processo chamado apoptose, ou "morte celular".
Em outras palavras, o tripanossoma propositadamente destrói algumas das suas próprias células.
Matar suas próprias células pode soar como uma má ideia, mas fazê-lo "reduz a carga do anfitrião e aumenta a chance de parasitas serem transmitidos para a mosca tsé-tsé", diz Duszenko.
O conceito é manter o hospedeiro vivo, de modo que o parasita tenha mais tempo para infectar outras pessoas. Se a concentração de parasitas subir muito rapidamente, o anfitrião morreria antes de o parasita se espalhar.
Essa descoberta pode ajudar a explicar por que algumas pessoas vivem com níveis crônicos da doença por anos. Livros didáticos devem agora ser reescritos em conformidade com essas pesquisas, diz Duszenko.

Adversário difícil
Apesar desses avanços, ainda há o problema de que o T. brucei é muito bom em se manter um passo à frente da defesa dos seus anfitriões.
O parasita é particularmente hábil em "variação antigênica": tem mais de 1 mil versões de uma proteína em sua superfície exterior, mas exibe apenas uma versão de cada vez, de modo que o sistema imunológico do hospedeiro só produz anticorpos contra a proteína que está à mostra.
Nesse meio tempo, alguns dos parasitas mudam para outra versão, que não podem ser atacadas por esses anticorpos.
Toda vez que o anfitrião produz anticorpos contra uma nova onda de parasitas, alguns tripanossomas mudam para uma nova camada.
"A resposta imune está sempre tentando recuperar o atraso com os parasitas", diz Martin Taylor, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Em parte por isso, não houve novas drogas durante décadas. Um dos medicamentos recomendados é a pentamidina, que trata a primeira fase do T. b. Gambiana - ela foi desenvolvida em 1940. O melarsoprol, que trata a fase final, foi desenvolvido em 1949 - é tóxico e causa a morte em cerca de 5% dos casos.
Outra questão é que as empresas farmacêuticas não têm investido muito dinheiro em pesquisas sobre a doença do sono: ela é uma das chamadas doenças negligenciadas.
"A razão pela qual elas são chamadas de doenças negligenciadas é porque elas foram negligenciadas", diz Taylor.
"Porque são doenças das pessoas mais pobres dos países em desenvolvimento, e, uma vez que leva milhões de dólares para desenvolver uma droga para o mercado, não há o incentivo econômico para criar novos medicamentos."
Isso parece ter mudado um pouco nos últimos anos. Algumas empresas farmacêuticas até fizeram parcerias com organizações sem fins-lucrativos que pressionam por novos remédios.
MacLeod diz que há duas novas drogas "em vias de desenvolvimento", que estão passando por testes.
"Recentemente, tem havido um esforço para encontrar drogas para essas doenças negligenciadas", afirma.
A doença do sono certamente continuará presente nos próximos anos. Mas, ao revelar mais segredos do parasita, um dia poderemos ser capazes de colocá-la para dormir de vez.

Por: BBC-Brasil

Lei que beneficia empresas de telefonia também tem agrados às TVs

Projeto exclui canais e rádios de contribuir com Fundo de Universalização das Telecomunicações. Taxação renderia 1 bi ao ano para os cofres públicos



Em tempos de penúria fiscal, com o governo a negar 7 reais a mais ao salário mínimo, congelar por vinte anos gastos sociais e a propor que menos gente receba aposentadoria (e de valor menor), uma simples decisão governamental poderia render 5 bilhões de reais de uma vez aos cofres públicos e garantir um fluxo de 1 bilhão de reais por ano daqui em diante.

Esses números são estimativas do potencial arrecadatório com a cobrança de uma contribuição a ser paga por rádios e TVs com base em uma lei de 2000, a 9.998. Uma polêmica que volta à baila graças à lei que presenteia as empresas de telefonia fixa com bilhões de reais em bens públicos.

A lei do presente às teles, por enquanto no aguardo de uma decisão do Supremo Tribunal Federal para ir à sanção do presidente Michel Temer, muda a lei 9.998 e exclui a radiodifusão de contribuir com o Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust).

Pela lei de 2000, o Fust é abastecido com 1% da receita bruta das empresas prestadoras de serviço de telecomunicações. Uma resolução da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) daquele mesmo ano, a 247, detalhou como seria a cobrança e deixou claro que rádios e TVs eram serviços de telecomunicações e pagariam.

Teve início então uma batalha nos tribunais.

A Abert, associação das emissoras, foi à Justiça para não ser tratada como serviço de telecomunicação, a fim de escapar da taxação. Na primeira instância, perdeu, com uma sentença a dizer: “Não há dúvidas de que a telecomunicação engloba todos os serviços, inclusive os de radiodifusão”.

Recorreu à segunda instância e sofreu nova derrota. A sentença final, chamada “acórdão”, foi publicada pelo Tribunal Regional Federal da 1a Região em 2013, e a Abert não recorreu. Caso encerrado.

Após a sentença, a Procuradoria Federal atuante na Anatel emitiu parecer a recomendar o início da taxação das rádios e TVs, em cima do faturamento delas com propaganda. E recolher os atrasados até cinco ano para trás – dívida fiscal caduca após cinco anos.

Na época, a Procuradoria calculava uma receita de 1 bilhão por ano com a taxação. Daí haver um potencial estoque de 5 bilhões, referente ao acumulado.

O mesmo parecer, contudo, dizia que antes do início da cobrança era necessária uma palavra final da Advocacia Geral da União, chefiada então por Luis Inácio Adams, pois um parecer de 2006 da consultoria jurídica do Ministério das Comunicações era contra a taxação. As Comunicações na ocasião eram comandadas por um ex-jornalista da TV Globo, Helio Costa, do PMDB de Minas.

À AGU, portanto, caberia desfazer a desavença jurídica. Examina o assunto até hoje, sem ter se pronunciado. Uma decisão poderia viabilizar o início da taxação dos radiodifusores.

Se a lei do “presente” às teles for à sanção de Temer e este assiná-lo sem mudanças, a AGU não precisará mais decidir, pois as emissoras de rádio e TVs também terão seu “presente”: imunidade ao Fust.

Por: Carta Capital

O mistério dos corpos de mais de 2 mil anos achados em pântanos da Dinamarca

O Homem de Tollund foi enforcado e depositado na lama há 2.400 anos, mas de tão preservado apresenta até vestígios de barba
A linha férrea entre a alemã Hamburgo e Copenhague, capital da Dinamarca, tem uma paisagem repleta de brejos. E a exemplo do que vem acontecendo em outras localidades do norte europeu, da Irlanda à Polônia, esses pântanos têm se revelado misteriosas tumbas.

Corpos de 2 mil anos de idade vêm sendo descobertos, e muitos arqueólogos acreditam que se tratam de vítimas de sacrifícios religiosos da Idade do Ferro (período iniciado em 1.200 a.C. em regiões da Ásia e da Europa), mortas e delicadamente depositadas nos pântanos como uma oferenda aos deuses.
Outros acadêmicos, porém, especulam que podem ser criminosos, imigrantes ou viajantes.

A Dinamarca tem uma das maiores concentrações de brejos - e de corpos encontrados - do mundo. Boa parte está perfeitamente preservada por causa de ácidos produzidos pelo musgo que é tão presente nesse ecossistema.
Muitos corpos foram acidentalmente descobertos por coletores de turfa, substância gerada pela decomposição de vegetais de áreas alagadas que os dinamarqueses ainda usavam como combustível entre 1800 e 1960.
Autópsias modernas revelaram que quase todas as vítimas - homens ou mulheres - sofreram mortes violentas. Algumas tinham marcas de forca ou cordas ao redor dos pescoços. Outras, as gargantas cortadas.

Cientistas suspeitam que brejos dinamarqueses eram locais de depósito de sacrifícios humanos para divindidades da Idade do Ferro
Pouco se sabe sobre a Dinamarca na Idade do Ferro, já que, por exemplo, não havia uma língua escrita local e poucos documentos escritos por gregos e romanos sobreviveram. Podemos apenas especular sobre o que aconteceu.
Mas há um detalhe importante: nessa época, a maioria das pessoas era cremada. Sendo assim, por que os chamados "corpos do pântano" tiveram um destino diferente? Foi o que quis descobrir.
Choque
Minha primeira parada foi Vejle, uma cidade de 100 mil habitantes a 240 km de Copenhague.
Lá, encontrei Mads Ravn arqueólogo-chefe do Vejle Museum, que tem uma fascinante coleção de artefatos, incluindo moedas romanas e broches com a suástica, símbolo que existiu milhares de anos antes dos nazistas.
Todos encontrados em pântanos e considerados oferendas a deuses, possivelmente da Idade do Ferro.
Em um sarcófago de vidro disposto em um salão escuro nos fundos do museu está o corpo da Mulher Haraldskaer, que tem uma expressão de choque em sua face.
Seu rosto não era tão pacífico como o de outros "corpos do pântano" que tinha visto em livros. Era algo estranho, que me fez sentir que estava invadindo sua privacidade.

Condições ácidas em solo e água dos brejos dinamarqueses podem preservar corpos por séculos

Quando ela foi descoberta por extrativistas, em 1835, pensaram que era a rainha viking Gunhildd, que, de acordo com lendas nórdicas, teria sido afogada pelo marido, Harald Bluetooth", explica Ravn.
"Mas isso não é verdade, pois testes de carbono mostraram que ela tem cerca 2,2 mil anos de idade".

A Mulher Haraldskaer foi encontrada nua, ao lado de um manto, e tinha sido presa ao fundo por galhos de árvores possivelmente depois de morta.
Sulcos em seu pescoço sugerem estrangulamento, e análises forenses adicionais revelaram o conteúdo de seu estômago na hora da morte, incluindo milho-painço e amoras - uma refeição estranha em uma sociedade orientada para o consumo de carne.
"Estamos fazendo análises de isótopos em seu cabelo e trabalhando com uma nova técnica de DNA que extrai material de seu ouvido interno para descobrirmos mais sobre ela", conta o arqueólogo.
Mágico e sobrenatural
Ravn e eu dirigimos 10 km para o oeste até o Pântano Haraldskaer, onde a mulher foi descoberta.
Assim como os pântanos que vi do trem, estava coberto por algas verdes brilhantes e cercado por uma camada densa de árvores com cogumelos roxos. Há algo mágico e até sobrenatural, e é fácil ver o porquê de terem sido escolhidos como locais de sacrifício, e porque ainda exercem magnetismo nos dias de hoje.
A próxima parada era Aarhus, a segunda maior cidade dinamarquesa, para visitar o Moesgaard Museum, que abriga uma das melhores coleções sobre a Idade do Ferro na Europa.
A estrela da companhia aqui é o Homem de Grabaulle. Encontrado em 1952, esse corpo extremamente bem preservado encontra-se em posição deitada, pés e pele praticamente intactos, bem como a face, que tem uma expressão serena.

"Assim como a maioria dos corpos encontrados em pântanos, seu cabelo e pele ficaram avermelhados por causa de um processo químico conhecido como reação de Maillard", explica Pauline Asingh, diretora de exibições do museu. "Ele é realmente um homem bonito."
Mas o olhar tranquilo do Homem de Grabaulle contrasta com a evidência de seu fim violento.
"Ele foi forçado a se ajoelhar, e sua garganta foi cortada de orelha a orelha por alguém de pé por trás dele. Mas ele foi colocado com delicadeza no pântano. Pode parecer violento para nós, mas sacrifícios eram uma parte importante da vida cultural desse período", diz Asingh.
O museu também tem em seu acervo evidências de que os sacrifícios não eram limitados a humanos: em 2015, 13 cães do ano 250 a.C. foram encontrados no Pântano de Skodstrup, perto de Aarhus.
A parada final foi Silkeborg, a 44km a oeste de Aarhus. Lá, o Museum Silkeborg exibe "corpos do pântano" e um deles é considerado um dos mais bem-preservados espécimes do mundo.
O Homem de Tollund, de cerca de 2,4 mil anos de idade, está tão bem conservado que autoridades dinamarquesas pensaram que ele era um menino desaparecido quando foi encontrado, em 1950.

O Homem de Grauballe é a principal atração do Moesgaard Museum

Assim como outras vítimas, ele foi enforcado. A corda que ajudou a matá-lo ainda estava enrolada em torno de seu pescoço, e seu rosto estava perfeitamente intacto.
Na sala ao lado estava a Mulher de Elling, achada a apenas 40 metros do Homem de Tollund e que deve ter morrido na mesma época. Também se acredita que ela tenha sido enforcada, e é uma atração popular por causa de seu cabelo vermelho, amarrado em uma longa trança de 90 cm de comprimento, com um elaborado nó.
Ole Nielsen, o arqueólogo do museu, me levou para visitar Bjaeldskovdal, um pântano 15 km distante de onde os corpos foram encontrados.
Ao pararmos para observá-lo, pensei em quais outros segredos suas profundezas turbas poderiam esconder.

Por: BBC-Brasil

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