INTERADUS: outubro 2018

Combate à malária: Como cães farejadores podem se tornar arma em países pobres

Por Edison Veiga - BBC Brasil



Cães farejadores estão sendo treinados para ajudar a diagnosticar malária em locais com dificuldade de acesso a sistema de saúde, com bons índices de sucesso. A ideia, segundo os cientistas, é conseguir análises rápidas em um processo simples e barato - sem necessidade de exames de sangue.

O trabalho foi apresentado nesta segunda-feira no congresso anual da Sociedade Americana de Medicina e Higiene Tropical, em Nova Orleans, nos Estados Unidos.

"As principais vantagens desse método com cães é que os testes são muito rápidos, não requerem coleta de sangue e podem funcionar facilmente em áreas remotas", afirmou à BBC News Brasil o entomologista Steve Lindsay, especialista em Saúde Pública, professor da Universidade de Durham, da Inglaterra, e principal autor do trabalho.

A pesquisa foi financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates, instituição filantrópica criada pelo fundador da Microsoft para fomentar projetos de melhoria à qualidade de vida, principalmente em soluções de saúde e combate à pobreza.

Participam do projeto, além da Universidade de Durham, a instituição Medical Detection Dogs, a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, a Universidade de Dundee, também britânica, e o Programa Nacional de Controle da Malária da Gâmbia, país da África Ocidental.

A nova técnica ainda está em fase de estudos. "Mas, em princípio, demonstramos que os cães podem ser treinados para detectar pessoas infectadas com a malária pelo seu odor", diz Lindsay.



Os cientistas acreditam que, com o método não invasivo de análise, seja possível diagnosticar um maior número de pessoas, ajudando assim a impedir a disseminação da malária e ampliando o tratamento precoce da doença.

"Os cães são treinados com uma meia de uma criança com forte infecção por malária", explica o pesquisador.

"Durante o treinamento, o animal é treinado a recuperar a meia e a tarefa progressivamente vai se tornando mais difícil, escondendo a meia da vista do cão. Gradualmente, os animais começam a distinguir meias infectadas e não infectadas."

Conforme ele contou à reportagem, dois cães - um mestiço labrador e golden retriever chamado Lexi, e Sally, da raça labrador - foram treinados para fazer isso. "Um levou 19 semanas para estar treinado, outro, 24", diz.

No processo, eles utilizaram meias de náilon que foram vestidas por crianças e adolescentes aparentemente saudáveis, com idades entre 5 e 14 anos, todos moradores na região do rio Gâmbia.

As mesmas crianças também foram submetidas a um exame de sangue convencional para detecção do parasita da malária, o Plasmodium falciparum.

No total, foram 175 amostras. Trinta crianças foram diagnosticadas como portadoras do parasita, 145, não.

Os cientistas lembram que o método, pela facilidade, possibilita verdadeiros mutirões de análises, já que exames de sangue acabam sendo inviáveis em grandes populações remotas - pelas dificuldades de coleta e transporte do material.

"Os cães identificaram corretamente 70% das amostras de meias utilizadas por crianças infectadas com malária e 90% de crianças não infectadas", conta Lindsay. Pelos padrões da Organização Mundial de Saúde (OMS), os diagnósticos de malária precisam ter uma precisão superior a 75% em testes com amostras acima de 200 parasitas por microlitro.

"Considerando apenas essa proporção, nossos cães obtiveram 82% de êxito", diz o cientista. "Portanto, acima do padrão."

Ele ressalta, contudo, que novos testes precisam ser feitos, com uma amostragem maior. "Estamos bem adiantados no projeto. Calculo que dentro de 3 a 5 anos poderemos ter o método aplicado como um programa", planeja.

Cão é bem-vindo pelas comunidades, diz o estudo

Neste caso da pesquisa, as amostras foram transportadas para a Inglaterra, onde o procedimento foi feito. Mas numa situação em que a técnica seja implantada como política de saúde pública, animais treinados podem ser levados para as comunidades, facilitando, assim, os testes.

Por isso, em paralelo ao estudo principal, pesquisadores fizeram um teste com um cão farejador não treinado, que foi levado até vilarejos da Gâmbia. O objetivo era testar sua aceitabilidade pelas populações locais. Segundo os pesquisadores, a maioria absoluta das pessoas foi favorável ao método.

De acordo com a psicóloga Claire Guest, cofundadora e diretora da instituição Medical Detection Dogs, o uso de cães neste tipo de trabalho é algo que deve ser "muito utilizado no futuro".

"Já registramos resultados positivos no treinamento de cães para diversas doenças, incluindo câncer e diabetes. Eles podem perceber alterações de açúcar pelo odor", afirma. "Esta foi a primeira vez que treinamos os animais para detectar infecção parasitária. Estamos muito satisfeitos com os resultados iniciais."

Ela vislumbra possibilidade de utilizar método semelhante para diversas outras doenças tropicais, como a leishmaniose e a tripanossomíase, sobretudo em países com dificuldades de diagnóstico.

Identificar o parasita da malária tem sido um desafio
A malária é uma doença causada por protozoários parasitários, os Plasmodium falciparum, transmitidos para pessoas por meio de picadas de mosquitos do tipo anopheles.

Os sintomas mais comuns são febre, calafrios, fadiga, vômitos e dores de cabeça - no princípio, facilmente confundidos com uma gripe forte. Casos graves podem evoluir com convulsões, icterícia e até coma.

Em geral, os sintomas começam a se manifestar de 10 a 25 dias depois da picada do inseto.

É uma doença de clima equatorial, com regiões endêmicas na América, na África - o continente contabiliza mais de 85% das mortes por malária no mundo - e na Ásia.

No Brasil, 99% dos registros ocorrem na região amazônica. No ano passado, foram registrados 194 mil casos da doença - mas, no país, a principal forma da doença é a vivax, mais branda e com menos risco de vida do que a versão africana.

O grande desafio tem sido identificar o parasita em pessoas que ainda não apresentam sintomas. Estas precisam ser tratadas para que a disseminação da doença seja evitada.

De acordo com o último relatório mundial sobre a doença divulgado pela OMS, em 2016 houve 216 milhões de casos de malária - um número 5 milhões maior do que no ano anterior. Cerca de 450 mil pessoas morrem, por ano, em consequência da doença.

Barcelona se afasta de Ronaldinho Gaúcho após apoio a Bolsonaro

Segundo a publicação espanhola Sport, o apoio de Gaúcho e Rivaldo vai na contramão dos princípios do Barça e incomodou a alta cúpula do time.



O Barcelona tomou a decisão de se afastar de dois de seus embaixadores brasileiros, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, por eles terem declarado apoio ao candidato de extrema-direita à Presidência pelo PSL Jair Bolsonaro.

A publicação espanhola disse que a “posição de Ronaldinho a favor de Jair Bolsonaro como futuro presidente do Brasil surpreendeu pelas posições extremas e antagônicas do candidato aos valores que defendem não somente o Barcelona como também a sociedade em geral”.

“A homofobia, a misoginia e o racismo que Bolsonaro pregou ao longo de seus 30 anos de carreira política e que tem exaltado em sua campanha eleitoral são inaceitáveis no ponto de vista dos torcedores do Barcelona já que esse é um dos times que mais se posicionou internacionalmente do lado oposto ao do Bolsonaro”, escreveu o jornal espanhol.

O Barcelona não se posicionou oficialmente sobre a postura do jogador brasileiro, mas segundo o Sport, a alta cúpula do time decidiu diminuir a presença de Ronaldinho em eventos oficiais do Barça, incluindo os patrocinados, como os amistosos do Legends, nos quais Gaúcho sempre esteve presente.

De acordo com a publicação, Ronaldinho Gaúcho tem um acordo comercial com o Barça e cobra para participar desse tipo de evento, assim como o colega Rivaldo, que também costuma estar nas partidas dos Legends e é outro que deve ter sua imagem gradualmente afastada do time, segundo o Sport.



Publicitário da agencia Africa ofende nordestinos e esquece que seu chefe é baiano

A bolha publicitária ficou bastante agitada na tarde desta segunda-feira (8). Tudo por conta de um post preconceituoso do diretor da unidade de negócios da agência de publicidade Africa, José Boralli. Insatisfeito com a idade de Fernando Haddad (PT) para o segundo turno, ele destilou o seguinte comentário:


“Nordeste vota em peso no PT. Depois vem para o sudeste procurar emprego!”. A agência Africa é uma das mais renomadas do mercado publicitário brasileiro. Fundada por Nizan Guanaes, Sergio Gordilho, Marcio Santoro, Olívia Machado e Luiz Fernando Vieira, a empresa atende algumas das maiores empresas que atuam no país como Natura, Braskem, Itaú e Vivo.

O caso foi revelado pelo BuzzFeed e a grande ironia do acontecido é que o fundador da empresa, Nizan Guanaes —dos principais e mais premiados publicitários brasileiros– é baiano. Além dele, Sergio Gordilho que é co-presidente e COO também é baiano.

O post de José Boralli pode ser enquadrado como xenofobia, um crime previsto ela lei nº 7.716 e que pode chegar a ser punido com pena de reclusão de 2 a 5 anos.

Após a repercussão negativa nas redes sociais, Boralli publicou uma nova postagem em que pede “sinceras desculpas a todos que se sentiram ofendidos”. Seu post, ainda segundo ele, teria sido escrito “no calor do momento” e não refletia sua verdadeira opinião.

Em um e-mail enviado a todos os funcionários e obtido pelo “BuzzFeed”, a agência afirma que tomará as medidas cabíveis sobre o caso.


Por: YAHOO

Ciro sai em defesa de Lula e dá “aula de Direito” para Eliane Cantanhêde

Ciro, que é professor de Direito, subiu o tom contra Eliane Cantanhêde e Vera Magalhães quando as jornalistas começaram a falar do processo de Lula. "Esse país não vai se sair bem se nós, brasileiros, acharmos conveniente agredir, insultar e pior, prender quem a gente não gosta politicamente. Jornalistas, inclusive". 


O Brasil vive hoje uma crise profunda. Ela tem uma causa específica?

Jessé de Souza: "Ódio ao pobre é o problema central do Brasil"

Doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e professor da UFABC, Jessé Souza, 58 anos, é um dos mais polêmicos intelectuais brasileiros da atualidade. Seu último livro, “A Elite do Atraso — da escravidão à Lava Jato” (Editora Leya), tem se mantido no topo das listas dos mais vendidos há oito meses. Nele, o autor defende que o problema principal do Brasil não é a corrupção no Estado, mas a desigualdade, herança direta da escravidão. O livro é também uma resposta crítica ao clássico “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, e ao conceito de homem cordial — o brasileiro patrimonialista que não vê distinção entre o público e o privado. Para Souza, o patrimonialismo é um problema secundário. “Mais de 50% dos brasileiros exercem atividades semi-qualificadas. E essas classes populares são odiadas e desprezadas, como os escravos eram”.


A VERDADE É DURA: QUEM FICA EM CIMA DO MURO CONSENTE COM AS IDEIAS NAZIFASCISTAS DO BOLSONARISMO


Por: Mário Magalhães - Intercept Brasil

Na tarde de uma quarta-feira do ano passado, o deputado federal Jair Messias Bolsonaro desembarcou no aeroporto João Suassuna, na cidade paraibana de Campina Grande. Do lado de fora, discursou para centenas de fiéis que ansiavam por ele.

“Como somos um país cristão, Deus acima de tudo!”, esgoelou-se. “Não tem mais essa historinha de Estado laico, não! É Estado cristão!” Pronunciou seu voto de fé: “Vamos fazer um Brasil para as maiorias! As minorias têm que se curvar às maiorias! A lei deve existir para defender as maiorias! As minorias se adéquam ou simplesmente desapareçam!”

Foi zombaria da história o sol implacável que cegava os anfitriões do capitão. Para mirá-lo na contraluz, eles levavam as mãos à testa, em forma de uma aba de boné, proporcionando sombra aos olhos. O homem encolerizado ao microfone, naquele 8 de fevereiro de 2017, encarnava personagens sombrios de outrora. Ao preconizar o desaparecimento de minorias, evocou Ióssif Stálin trucidando oposições à esquerda e à direita. E o extermínio engendrado por Adolf Hitler.

A ameaça de eliminação das minorias conecta o bolsonarismo a ideias estimadas pelo nazifascismo. Ciro Gomes desdenhara Bolsonaro como “um projetinho de Hitler tropical”. Na sexta-feira, em cima de um caminhão de som, o candidato presidencial do PDT se referiu ao adversário do PSL como “nazista filho da puta”. Depois de uma sessão da peça “Meus 200 filhos”, ambientada em cenário do Holocausto, um espectador gritou, no teatro do Centro Cultural Justiça Federal: “Abaixo o nazismo! Veja em quem você vai votar!”.

Numa charge para comentar pesquisa do Ibope, Benett cruzou linhas evolutivas de votação e rejeição do deputado (antes de ele estacionar na intenção de votos e sua rejeição aumentar novamente). Elas desenharam a suástica. O grupo “Judeus contra Bolsonaro” desfraldou bandeira: “Não aceitamos que um fascista possa ser presidente do Brasil”.



O manifesto “Democracia Sim”, cujos signatários ilustres se inclinam por candidatos diversos, reconhece na barbárie Bolsonaro uma “ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial”. E lembra: “Líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários”.

A Gaviões da Fiel reviveu a têmpera da democracia corintiana e rechaçou o candidato “que homenageia publicamente torturadores”. Tabelou com a Torcida Jovem do Santos, que se entrincheirou: “A opressão jamais irá vencer a nossa luta por liberdade dentro e fora dos estádios!”

Simpatizantes neonazistas

O parentesco do ideário bolsonarista com o arsenal ideológico nazi é tão inequívoco que até pascácios da direita mais ouriçada o percebem. Em 2011, o movimento neonazista White Pride World Wide juntou-se à convocação de um “ato cívico” pró-Bolsonaro em São Paulo. O nome do grupo quer dizer, no idioma que ele despreza, “Orgulho Branco no Mundo Inteiro”.

Skinheads apreciam o deputado. Essa gente é sádica como o garoto de olhos azuis Bobby, um dos clones de Hitler no filme “Os meninos do Brasil”. Bobby manda seus cães dobermann atacar e matar – um deles morde uma veia jugular e se lambuza de sangue humano. Talvez tenha sido um clone do facínora Carlos Alberto Brilhante Ustra quem, na campanha pelo impeachment, pendurou num viaduto bonecos de Dilma Rousseff e Lula enforcados.

Antes de afinar a voz pelo diapasão eleitoral, Bolsonaro teve oportunidade, mas não deplorou a memória do führer. Em 2012, no programa “CQC”, indagaram se ele “gostava” de Hitler. “Não”, respondeu, antes de render-se: “O que você tem que entender é o seguinte: guerra é guerra. Ele foi um grande estrategista. Quando você tem um general, aqui no Brasil, em qualquer exército do mundo, aquele general tem que estar pronto para aniquilar o outro país, destruir o outro país, para defender o seu povo”.

Bolsonaro não mencionou episódios como a invasão da Polônia e a ignomínia do gueto de Varsóvia. Nem explicou como a expansão nazista teria “defendido” o povo alemão.

Na mesma entrevista, perguntaram: “O senhor já deu um sopapozinho em alguma mulher?” “Já”, disse o capitão. “Eu era garoto, ainda em Eldorado (SP), e uma menina, que forçou a barra para cima de mim…”. E gargalhou, acompanhado dos entrevistadores.

Com estímulos dessa natureza, não surpreende a letra que bolsonaristas adaptaram ao funk “Baile de favela”. Na “Marcha da Família com Bolsonaro”, no Recife, os manifestantes cantaram: “Dou pra CUT pão com mortadela/ E pras feministas, ração na tigela./ As minas de direita são as tops mais belas/ Enquanto as de esquerda têm mais pelos que as cadelas”. A paródia não é “polêmica”, como prefere a imprensa anestesiada por eufemismos. É abjeta.

Ela não espanta, mas perturba. “O ovo da serpente” se passa na Berlim de 1923, dez anos antes de Hitler ser alçado a chanceler da Alemanha. Visita a gênese da tragédia nazista vindoura. O protagonista do filme de Ingmar Bergman é o trapezista judeu Abel Rosenberg. O desalento e o medo o abatem, depois de ele testemunhar policiais surrando um homem: “Acordei de um pesadelo e descobri que a vida real é pior do que o sonho”.

No Brasil, misoginia, homofobia e racismo se revolvem num coquetel de boçalidade e ódio. Em 2014, Bolsonaro disse ao jornal espanhol “El País” que “a imensa maioria [dos gays] vem por comportamento. É amizade, é consumo de drogas. Apenas uma minoria nasce com defeito de fábrica”. O nazismo também se apascentava da ojeriza por homossexuais. Nos campos de concentração, um triângulo rosa era costurado em seus uniformes. A peça “Bent”, de Martin Sherman, coloca em cena dois prisioneiros com triângulo rosado.

Um novo ‘Plano Cohen’

É possível que Joseph Goebbels, o ministro do III Reich para a Propaganda, jamais tenha enunciado a tese de que uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Foi, todavia, um praticante compulsivo dela. Adeptos de Jair Bolsonaro têm compartilhado informações que maltratam os fatos.

Circula no WhatsApp a patacoada de um “plano de dominação comunista do PT”. A montagem repousa na prateleira do mercado de invencionices. É herdeira de uma armação nazistoide ocorrida em 1937. Enamorado pela Alemanha hitlerista, o presidente Getulio Vargas pretextou um certo “Plano Cohen” para perpetrar o golpe de Estado que impôs a ditadura do Estado Novo.

O tal plano arquitetava um assalto ao poder pelos comunistas. Era falso. Quem o datilografou foi um quadro da Ação Integralista Brasileira, organização prima do nazifascismo europeu. Capitão do Exército, chamava-se Olímpio Mourão Filho. Quando general, daria a largada no golpe de 1964 – um Mourão golpista é notícia caduca. O sobrenome Cohen foi escolhido para vincular o Partido Comunista à comunidade judaica; o integralismo era visceralmente antissemita.

Mentira no atacado, mentira no varejo. O deputado federal Eduardo Bolsonaro veiculou um vídeo de propaganda do pai concorrente ao Planalto. Uma narradora em off fala enquanto se vê o que aparenta ser o rosto da dona da voz: “Sou mulher, negra e vinda de família pobre. […] Há muito me libertei do vitimismo. […] Meu voto é pelo Brasil. Meu voto é Bolsonaro”.

Logo desmascararam a farsa. A moça na tela é uma canadense executiva financeira de multinacional. Era atriz em 2011, ao gravar filmes para um banco de imagens, do qual saiu a “brasileira” pseudo-bolsonarista. “Somente a verdade nos liberta”, pregou Eduardo Bolsonaro ao publicar o vídeo no Twitter.

A perversão das mal denominadas “fake news” – se são falsas, não são notícias – levou Fátima Bernardes a gravar esclarecimento sobre uma delas. Espalharam que ela doara R$ 350 mil, mais a reforma de uma casa, à família do esfaqueador de Bolsonaro. A apresentadora teria sido motivada pela condição de Adélio Bispo de Oliveira como “vítima do sistema, da sociedade, capitalista, preconceituosa, odiosa e sem amor e porque era intimidado com os discursos de ódio de Bolsonaro”. É difícil identificar as digitais na mentira vulgar?

Tentaram atingir Ciro Gomes, plantando o boato que ele agredira sua ex-companheira Patrícia Pillar. Obra de quem? No Twitter, um dito Renato mantém um perfil com mais de mil seguidores. Diz-se de “direita” e sufraga Bolsonaro. No dia 23 de setembro, ele tuitou: “Ciro agrediu a Patrícia Pillar, a vítima ainda o defende” (copiei tudo, mas não promoverei o patife). Renato não maquinou o boato; foi um dos que o disseminaram. A atriz foi às redes e depôs: “Nunca sofri nenhum tipo de violência da parte de ninguém”. E anunciou voto em Ciro.

Teoria dos dois demônios

A despeito das credenciais de Bolsonaro e seu séquito, irrompe no ecossistema do poder um raciocínio extravagante: o de que o segundo colocado nas pesquisas, Fernando Haddad, padeceria do mesmo mal do capitão, o “extremismo”. Nivelam quem é diferente. De caso pensado ou não, ajudam o único extremista tresloucado (o cabo bombeiro é hors-concours).

Haddad militou contra a ditadura; Bolsonaro afirmou seis anos atrás que apoiaria um novo regime “nos moldes [do] de 64”. O PT governou por 14 anos e não mudou o número de membros do STF; Bolsonaro projeta mudar, para controlar a corte. Lula não tramou uma segunda reeleição, em que ele seria barbada nas urnas. Haddad batalha pelos direitos humanos; Bolsonaro advoga a tortura. Equivalem-se?

Os dois pertencem a “campos antidemocráticos”, pontificou na quinta-feira o colunista Merval Pereira, em artigo escrutinado pelo jornalista Fernando de Barros e Silva. Bolsonaro e Haddad emitem sinais que “representam ameaça à democracia”, diagnosticaram os cientistas políticos José Álvaro Moisés e Rubens Figueiredo. Para o economista e empresário Roberto Gianetti da Fonseca, um segundo turno com a dupla poderia gerar “grave risco institucional”.



O candidato Geraldo Alckmin apontou os líderes das pesquisas como “dois lados da mesma moeda, a do radicalismo” (o jornalista Bernardo Mello Franco dissecou a declaração do tucano). Fernando Henrique Cardoso escrevinhou uma carta considerando que o capitão e o ex-ministro de Lula “apostam em soluções extremas” – esqueceu de dizer que janta com Haddad, ao passo que Bolsonaro sugeriu matar o antigo presidente. Viveríamos “A hora dos extremos”, titulou a revista “Veja”.

Nenhum contendor de Bolsonaro assombra a democracia como ele, ao contrário do que sustentam “intelectuais adversativos”, expressão bem bolada pelo jornalista e editor Paulo Roberto Pires. “O intelectual adversativo situa-se num centro imaginário, que ergueu como lugar de equilíbrio e razoabilidade”, escreveu. É contra Bolsonaro, “mas”, “porém”, “contudo”… “Não é raro que, usando a desonestidade como método, conclua que bolsonaristas e lulistas são faces da mesma moeda.”

O PT alegadamente extremista é o partido em cujas administrações os banqueiros faturaram às pencas. O “confronto de extremos” constitui charlatanismo intelectual, sobretudo quando delineado com as letras afetadas do pedantismo. Quem iguala desiguais relativiza o perigo bolsonarista e banaliza seus delírios intolerantes.

Ficar em cima do muro significa consentir com a plataforma, esta sim, extremista de Bolsonaro. É adotar a teoria dos dois demônios, que no limite, ao rememorar refregas da ditadura, não difere torturadores de torturados.

Mulheres comandam resistência

A semana começou com más notícias para o capitão. O Ibope informou que sua diferença para Haddad caiu de nove para seis pontos. O plano de Lula vai dando certo. Bolsonaro tem 28% (igual à semana passada); Haddad, 22% (+3); Ciro, 11% (igual); Alckmin, 8 (+1); Marina Silva, 5 (-1). A rejeição imensa a Bolsonaro subiu de 42% para 46%. Ele perde nos cenários de segundo turno testados, exceto contra Marina – empatam.

Entre as mulheres, Bolsonaro e Haddad têm ambos 21%. São elas que devem provocar abalo inédito na campanha fascista. Convocam para o sábado, 29 de setembro, protestos contra o deputado. Mobilizam com a hashtag #EleNão. Um sem-número de movimentos se associou à iniciativa.

“Dia 29 faremos história!”, escreveu Antonia Pellegrino. A feminista e roteirista assinalou: “A plataforma de Bolsonaro é inaceitável em qualquer democracia. Não podemos aceitar que o antipetismo se volte contra nós mesmas, se transforme em voto a favor de Bolsonaro. Entendo que haja mulheres que repudiam com todas as forças o Partido dos Trabalhadores. Porém, o PT nunca deixou o campo da democracia e sempre respeitou as decisões judiciais. O ódio ao PT não pode se transformar no ódio à democracia”.

Jair Bolsonaro espera ter alta do hospital em breve. Talvez as pesquisas não lhe sejam alvissareiras como os boletins médicos.

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