INTERADUS: abril 2019

Última africana escravizada nos EUA a morrer é identificada

Ilustração mostra homens e mulheres escravos em um navio
Redoshi, como foi identificada a menina, enfrentou um regime escravocrata baseado em "espancamentos", "chicotadas" e "assassinatos", mas manteve a identidade africana e transmitiu sua língua à filha

O último sobrevivente conhecido dos navios negreiros transatlânticos, levado para os Estados Unidos em 1860, foi identificado por uma pesquisadora da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.

Sally Smith, como foi chamada, foi sequestrada na África Ocidental por comerciantes de escravos e viveu até 1937 no Alabama, na fazenda onde havia sido escravizada.

A pesquisadora Hannah Durkin fez a descoberta enquanto estudava em primeira mão registros contábeis, de recenseamento e outros arquivos.

Anteriormente, o último sobrevivente conhecido era um africano escravizado que morreu em 1935.

Durkin diz parecer "impressionante" que a história esteja tão perto da memória viva.
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Sequestrada aos 12 anos


Monumento marcando o comércio de escravos que passou por Benin, país de onde Redoshi teria sido sequestrada

A mulher, que foi identificada como Sally Smith nos Estados Unidos, mas que originalmente se chamava Redoshi, foi sequestrada por comerciantes de escravos em 1860 de uma aldeia no país hoje conhecido como Benin (antigo Daomé).

Durkin acredita que a menina tinha 12 anos quando foi embarcada em um dos últimos navios negreiros a irem aos EUA, junto com mais de 100 outras pessoas, entre homens, mulheres e crianças.

Ela foi comprada por um banqueiro e dono de plantação no Alabama e recebeu o sobrenome de Smith.

Embora a escravidão tenha sido abolida cinco anos depois de sua chegada aos EUA, Redoshi continuou trabalhando na mesma propriedade com o marido, também sequestrado na África Ocidental, e a filha.

Os pesquisadores dizem que ela permaneceu na mesma plantação por mais de 70 anos após o fim da escravidão - e foi a última pessoa conhecida da geração que fez a travessia forçada da África.
Vozes perdidas

Durkin diz que alguns detalhes da história de Redoshi foram registrados no século 20, quando historiadores e ativistas dos direitos civis começaram a documentar as experiências de pessoas levadas da África escravizadas.

Juntando as peças da história e comparando elas com o censo e registros públicos, a pesquisadora descobriu que Redoshi viveu em Selma, Alabama, até a morte, com aproximadamente 89 ou 90 anos.

Grande número de africanos escravizados nos EUA foi levado para trabalhos forçados nas lavouras do sul do país; após a abolição da escravatura, Redoshi continuou trabalhando na mesma fazenda

Há registros de escravos que viveram posteriormente, como os que nasceram na escravidão quando crianças, mas nenhum dos sequestrados da África é conhecido, até agora, por ter sobrevivido em um período depois de Redoshi.

As histórias de Redoshi registraram que ela teve uma vida pacata antes de ser capturada por membros de outra tribo local e levada para comerciantes de escravos.

Ela enfrentou um regime escravista baseado em "espancamentos", "chicotadas" e "assassinatos", mas, segundo a pesquisa de Durkin, há indícios de sua resistência, mostrando que ela transmitiu sua primeira língua à filha e manteve a cultura e identidade africanas.

"É apenas uma voz, mas isso nos dá um retrato de voz para aqueles que de outro modo estavam perdidos", diz Durkin.

Por: BBC Brasil

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