INTERADUS: fevereiro 2019

Diretora da Vogue Brasil faz festa com negras fantasiadas de escravas

A festa de aniversário luxuosa de Donata Meirelles, em Salvador, tinha temática escravocrata e até "trono de sinhá" para que os convidados tirassem fotos ao lado das "mucamas"; internautas acusam a socialite de racismo.

Tudo é diversão para elite, até "brincar" de escravidão.
Uma festa que reuniu artistas e milionários na noite desta sexta-feira (8) em Salvador vem sendo acusada por internautas de racismo. Trata-se da festa de aniversário de 50 anos da socialite Donata Meirelles, diretora da Vogue Brasil, realizada no Palácio da Aclamação.


Pelas fotos, a festa aparentava ter como tema o Brasil Colônia escravocrata. Mulheres negras fantasiadas de mucama faziam a recepção dos convidados, que postaram fotos em suas redes sociais com a hashtag #doshow50. As mulheres vestidas de escravo ficavam com abanadores ao lado de “tronos de sinhá” para que os convidados pudessem fazer o registro fotográfico.


“A branquitude ama vivenciar o ranço da escravidão, porque afinal de contas eles gostariam que não tivesse acabado mas, será que acabou? Vivemos na tal escravidão moderna, onde nossas dores viram fantasias, decoração de festas pra beneficiar o mal gosto das sinhás e sinhores”, escreveu, em uma postagem nas redes sociais, a cantora negra Joyce Fernandes, conhecida como Preta Rara.

Deputado do PSL quer proibir anticoncepcionais no Brasil


De acordo com o deputado Márcio Labre, o veto a métodos seguros como o DIU e a pílula do dia seguinte “visa proteger a saúde da mulher”


A primeira semana do novo Congresso já rende propostas dignas dos temores mais distópicos da série Handmaid’s Tale (O Conto de Aia). Um projeto apresentado pelo deputado Marcio Labre (PSL-RJ) quer proibir o uso da pílula do dia seguinte e outros métodos contraceptivos em todo o Brasil.

No PL 261/2019, Labre sugere veto total de “comércio, a propaganda, a distribuição ou a doação” da pílula do dia seguinte, pílulas de progestógeno, implantes anticoncepcionais e até mesmo DIU (dispositivo intrauterino). Na visão do deputado – que é jornalista – esses métodos seriam ‘micro abortivos’.

Segundo ele, a proposta “visa proteger a saúde da mulher”. Labre defende que a polícia apreenda e destrua todo o material encontrado em farmácias ou estabelecimento, e pode até interditar o local.


Vale esclarecer: nem a pílula do dia seguinte e nem outros métodos que retardam a ovulação são ‘abortivos’. No caso da pílula do dia seguinte, evita-se ou adia-se a ovulação caso ela não tenha ocorrido. O medicamento também impede a formação do endométrio gravídico, a camada que recobre o útero para receber o óvulo fecundado.

Há décadas os contraceptivos hormonais são alvo de críticas da ala mais radical da Igreja Católica e de grupos denominados pró-vida, que consideram o momento da concepção como o início da vida. Labre, inclusive, faz um aceno a esses grupos, para que pressionem pela aprovação da PL.

“Assim, conto, porém, primeiramente com a proteção de Deus. Em segundo lugar, com o apoio de vários movimentos Pró-Vida dispersos pelo País, cujo impacto sobre a opinião pública tem-se tornado cada vez maior nos nossos dias.”

No texto, ele também acusa o Ministério da Saúde de orientar o aborto até a quinta semana de gestação. A pasta, obviamente, rejeitou o disparate: conforme a legislação brasileira, o aborto só é permitido em casos de risco à vida da mulher e em casos de estupro e anencefalia.

Como tantos outros eleitos no arrastão conservador, Márcio Labre ganhou notoriedade em um canal de vídeos no Youtube no qual contesta, por exemplo, a seguridade das urnas. O deputado apresentou sete projetos até agora. Um deles propõe a revisão das pensões pagas aos anistiados pela Ditadura Militar.

Por que extermínio de indígenas nas Américas causou resfriamento do clima

A colonização das Américas no fim do século 15 matou tanta gente que afetou o clima na Terra. Esta é a conclusão de cientistas da University College London (UCL), no Reino Unido.



Os pesquisadores afirmam que o massacre decorrente da colonização europeia levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas, que acabaram sendo reflorestadas.

A recuperação da vegetação tirou dióxido de carbono (CO₂) suficiente da atmosfera para resfriar o planeta.

Este período de resfriamento costuma ser chamado nos livros de história de "Pequena Era do Gelo" - uma época em que o Rio Tâmisa, em Londres, costumava congelar durante o inverno no hemisfério norte.

"O massacre dos povos indígenas das Américas levou ao abandono de áreas desmatadas suficientes para afetar a absorção de carbono terrestre, com impacto que pôde ser observado tanto no dióxido de carbono na atmosfera quanto na temperatura do ar na superfície da Terra", escreveram Alexander Koch, um dos autores da pesquisa, e seus colegas no estudo publicado na revista científica Quaternary Science Reviews.



O que o estudo mostra?

A equipe revisou todos os dados populacionais que conseguiu reunir sobre quantas pessoas viviam nas Américas antes da chegada dos europeus ao continente em 1492.

Em seguida, avaliaram como os números mudaram nas décadas seguintes, à medida que os continentes foram devastados por doenças (varíola, sarampo, etc.), guerras, escravidão e questões sociais.

Os cientistas estimam que 60 milhões de pessoas viviam nas Américas no fim do século 15 (cerca de 10% da população total do mundo), e que este número foi reduzido a apenas cinco ou seis milhões em cem anos.

Eles calcularam a quantidade de terra cultivada por povos indígenas que teria caído em desuso, e qual seria o impacto se essas terras fossem substituídas por florestas e savanas.

A área em questão teria cerca de 56 milhões de hectares, quase o mesmo tamanho de um país moderno como a França.

Acredita-se que esta escala de renovação do solo absorveu CO₂ suficiente do ar para a concentração do gás na atmosfera apresentar uma queda de 7-10ppm (isto é, de 7-10 moléculas de CO₂ para cada um milhão de moléculas no ar).

"Para colocar isso no contexto moderno - basicamente queimamos (combustíveis fósseis) e produzimos cerca de 3 ppm por ano. Então, estamos falando de uma grande quantidade de carbono que está sendo sugada da atmosfera", explica Mark Maslin, coautor do estudo.

"Há um resfriamento acentuado por volta dessa época (1500/1600) que é chamada de Pequena Era do Gelo, e o interessante é que podemos observar processos naturais que resultam em algum resfriamento, mas a verdade é que para obter o resfriamento total - o dobro dos processos naturais - você tem que ter essa queda no CO₂ gerada pelo genocídio."




O que sustenta essa conexão?

A queda no CO₂ após o despovoamento no continente americano é evidente em amostras coletadas de núcleo de gelo da Antártida.

As bolhas de ar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentração de dióxido de carbono nesse período.

A composição atômica do gás também sugere fortemente que o declínio é impulsionado por processos no solo em algum lugar do planeta.

Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com os registros de reservas de carvão e pólen nas Américas.

Eles mostram o tipo de efeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande crescimento da vegetação natural.

"Os cientistas entendem que a chamada Pequena Era do Gelo foi causada por vários fatores - uma queda nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, uma série de grandes erupções vulcânicas, mudanças no uso da terra e um declínio temporário da atividade solar", explica Ed Hawkins, professor de ciência do clima da Universidade de Reading, no Reino Unido, que não participou do estudo.

"Este novo estudo demonstra que a queda no CO₂ aconteceu em parte devido à colonização das Américas e o consequente colapso da população indígena, que permitiu que a vegetação natural voltasse a crescer. Isso mostra que as atividades humanas afetaram o clima muito antes do início da revolução industrial", acrescenta.
Há lições para a política climática atual?Image captionSegundo pesquisadores do University College de Londres, há interações humanas que deixaram marca indelével no planeta bem antes da industrialização

Chris Brierley, coautor da pesquisa, acredita que haja, sim, lições a serem tiradas disso. Segundo ele, os efeitos da queda populacional abrupta e do reflorestamento das Américas ilustram o desafio inerente a algumas soluções para o aquecimento global.

"Há muita discussão sobre 'emissões negativas' de carbono e plantio de árvores para tirar CO₂ da atmosfera com o objetivo de mitigar a mudança climática", disse ele à BBC News.

"E o que vemos neste estudo é a escala do que é necessário, porque o despovoamento (das Américas) resultou em uma área do tamanho da França sendo reflorestada e apenas alguns ppm. Isso mostra o que o reflorestamento é capaz. Mas, ao mesmo tempo, esse tipo de redução talvez compense apenas dois anos de emissões de combustíveis fósseis ao ritmo atual."

O estudo também tem um peso nas discussões sobre a criação de um novo rótulo para descrever o que seria a "era da humanidade" - e seus impactos - na Terra.

Conhecido como Antropoceno, este período seria caracterizado pelo impacto da ação humana na Terra, e há um intenso debate sobre como pode ser considerado uma nova era geológica.

Alguns cientistas dizem que ele seria mais evidente a partir da grande aceleração da atividade industrial a partir dos anos 1950.

Mas, segundo os pesquisadores da UCL, o genocídio nas Américas revela que há interações humanas significativas que deixaram uma marca profunda e permanente no planeta desde muito antes da metade do século 20.

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